Assinaturas masculinas versus mensagens femininas.

Enquanto na classe da quarta série F, o Dino recolhia as assinaturas viris dos seus camaradas, na quarta série A, a Cláudia Lúcia pediu à cada colega que lhe deixasse uma mensagem cor de rosa bem pessoal, num daqueles diários com capa de couro, abraçados por uma tira contendo cadeado e fechadura.
Minha amiga enviou-me por e-mail o texto que lhe deixei na página que me fora reservada. Vamos analisá-lo?

Das 19 linhas, usei apenas 9 e uma entrelinha; estilo enxuto; como a data é do 24/11/65, imagino ter sido um dos últimos dias de aula e nas cabeças em geral, apenas entravam as perspectivas de sucesso escolar e as devidas comemorações oficiais.

Começo endereçando o meu texto à Cláudia, sem no entanto acentuar o seu nome; que lapso, quem cluaudica sou eu!

O corpo do meu texto, com cinco parcas linhas se insere no tempo, mas começa por uma elípse e comporta três palavras importantes: felicidades(no plural?), alegria e recordações, tudo muito corrido e sem ponto final.

 A letra final da palavra “futuro”, encontra-se completamente esmagada, como se assim pudesse pressentir o desenrolar de nossas vidas; ou apenas o da minha…

Paradoxalmente, assino com um “W” que sobe esperançoso e emendado ao nome, o número “65” despenca quase vertiginosamente.
Porque tudo de novo iria começar para nós, não inseri nenhum ponto final, talvez com receio de sair da infância falsamente protetora…

A Cláudia Lúcia virou uma mocinha charmosa e os rapazes belos mancebos, enquanto eu insisti em ficar criança: boicotei a missa, a colação de grau e o baile, em represália ao tratamento desumano que recebia em casa.

Passados três anos, fugi daquilo tudo e hoje sou feliz com as perspectivas de muitos reencontros e sobretudo, estou muito feliz por escrever neste blog e de editar o meu livro.

Wilma, ainda no 27/10/2010.

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