IECC – 1962 – Aulas de desenho geométrico na 1a Série A.

IECC – 1962 – Aulas de desenho geométrico na 1a Série A.

(wilma s. legris)

1962 – Aulas de desenho geométrico na 1a Série A  do IECC.

Queridos leitores:

Com sofrimento e lágrimas nos olhos, deixo-lhes o relato do programa de desenho e das aulas aulas de aplicação da geometria na matemática, de 1962, das quais me lembro direitinho como se fosse hoje!

E como!

Abraços martirizados,

wilma

24/07/12.

A professora, de uns quase 50 anos foi dona Eunice César de Noronha. Pequena e com lento falar, tinha os cabelos crespos como os de Edith Piaf; era solteira e dizem que se casou temporã, alguns anos depois de ter sido nossa mestra.

Na lista do material pedido, constava um caderno de desenho de grande formato vendido sob a marca Rosenhein, com capa em papel-couro e folhas não costuradas para que não fossem arrancadas.

Em seguida, lápis n° 2, borracha branca, régua de 30cm, esquadros, transferidor, tinta nanquim, compasso de metal com sua tiralinha; grafite e fixador também eram pedidos. A cereja sobre o bolo era uma caixa de lápis-aquarela da Rosenhein, que foi pouco usada na disciplina, mas que era o xodó de todo mundo.

Nunca imaginava que as aulas de desenho do ginasial se limitavam ao desenho geométrico, de figuras planas e de volumes.

Logo nas primeiras aulas tivemos que traçar à lápis, régua e esquadros a 90° uma barra composta de de várias linhas horizontais com 0,5cm entre cada uma, marcadas a cada 0,7cm na linha mais baixa; dali se elevavam verticais que acabavam por quadricular a barra.

Tudo devia ser feito levemente, sem calcar o papel, gênese do que seria o suporte de uma grega composta de dois motivos idênticos, que se cruzavam ou seguiam paralelos.

Em seguida a frisa grega era recoberta de nanquim, usando-se a tiralinha e muitos comprimidos calmantes, porque era naquela fase do trabalho que tudo ia por água abaixo.

Mosaicos diferentes também foram feitos em classe.

Caso passássemos essa fase com sucesso, podíamos colorir as frisas como desejássemos com os lápis-aquarela.

Depois de compreender o processo de construção da frisa, vinham as variações, geralmente recomeçadas muitas vezes entre rancor e lágrimas.

As frisas desenvolvidas e declinadas em uma meia-dúzia de modelos, transmitiam a algumas de nós um certo respeito amargurado pela arte grega. 

As figuras planas também eram construídas com precisão geométrica para depois serem recobertas de tinta nanquim.

A astúcia que encontrei foi de bombear o nanquim na minha Parker 52 para evitar de usar a tiralinha e de borrar tudo como de hábito: se Maomé não vai à montanha, nada como levar a montanha até Maomé!

A última figura plana traçada em classe foi o círculo, com as suas cordas, tangentes, etc..

Passar a nanquim aquela figura era uma atividade de muita concentração, tensão e decepção; era necessário colocar a tiralinha na extremidade do compasso, enchê-la de nanquim e…  fosse o que deus quisesse. 

Por isso resolvi ser menos geométrica e mais prática: para não ter que usar a mão do gato, fui à Rosenhain, comprei outro caderno e se em classe obedecia ao procedimento de praxe, borrando tudo e chorando muito, diluindo a tinta nas lágrimas do meu pranto; em casa procedia com o meu método absolutamente impreciso na arte, nada cartesiana da minha geometria, fazendo uma impostura anti-Euclides.

Usava o caderno II e uma vez o círculo traçado com o raio indicado, procurava entre todos os objetos circulares da copa de casa, aquele cujo diâmetro coincidisse com o do círculo traçado a lápis, como mandava o figurino; depois seu contorno era prontamente traçado em nanquim despejado pela Paker.

Daquela maneira nunca aprendi nada sobre a verdadeira geometria, com o rigor do traçado e o respeito às medidas, mas apresentava o caderno limpo e sempre obtinha a nota máxima.

Vieram os poliedros e creio que o caderno II foi substituído pelo caderno III.

Quando nos foi ensinada a lição sobre os corpos, aí sim senti-me no meu elemento: cone, esfera, cilindro, tudo recoberto de grafite, e com intensidades diferentes para termos a ilusão do volume, inclusive acrescentando a sua sombra do corpo desenhado.

Ah! Os corpos também foram motivo de choros incontidos logo depois de cobertos com grafite, antes que um dedo intruso lhes tirasse a nitidez e sombreasse a folha ao seu entorno. Era pôr o fixador e deixar secar; claro se a quantidade de produto não fosse demasiadamente exagerada, manchando todas aquelas horas de trabalho, perdido!

Lembram-se?

Esse post foi publicado em material didático usado no iecc. Bookmark o link permanente.

Uma resposta para IECC – 1962 – Aulas de desenho geométrico na 1a Série A.

Deixe um comentário