Tresnoitados
José Horta Manzano (BrasilDeLonge)
Hoje, que é domingo, ainda não está dando pra perceber, mas amanhã é que todos vão sentir na pele. Ou na pálpebra. Sentir o quê?
(in: Doctissimo)
A mudança de hora, ora! Todos os países europeus ‒ com exceção da Rússia e de dois ou três vizinhos ‒ entraram na hora de verão este fim de semana.
Como no resto do mundo, a justificativa para impor esse desagradável ritual bianual é poupar energia. Muitos contestam argumentando que os inconvenientes pesam mais que a diminuta economia. É discussão sem fim, que vem dando pano pra mangas e não vai se extinguir tão já.
A primeira experiência concreta de instaurar hora de verão teve lugar na Alemanha, em 1916, em plena guerra mundial. A ideia, considerada genial, foi adotada pelo Reino Unido e pela França naquele mesmo ano. De lá pra cá, a adoção da mudança de hora foi esporádica. De quando em quando, um país decidia instaurá-la, enquanto vizinhos não tocavam no relógio.
Nos tempos em que as comunicações internacionais em tempo real eram reduzidas, a discrepância não incomodava muito. Mas os tempos mudaram, e a uniformização da prática foi-se fazendo necessária.
A partir do início dos anos 80, um após o outro, todos os países europeus foram-se alinhando à rotina. Nos primeiros anos, o Reino Unido, embora adotasse a hora de verão, não mexia em seus relógios ao mesmo tempo que os demais países europeus. A mudança entrava em vigor com defasagem de algumas semanas com relação aos vizinhos.
(in : Depositsphotos)
Maldosos, os franceses aproveitavam para repetir que «os ingleses não conseguem mesmo fazer nada como os outros».
Essa excepcionalidade terminou em 1998. Naquele ano, a União Europeia normatizou a prática. Ficou combinado que a hora de verão passasse a vigorar da 1h (GMT) do último domingo de março até às 2h (GMT) do último domingo de outubro.
(in Gigistudio:”Agora eu te explico: tens que cantar uma hora antes da hora. Entendeu?”)
Agricultores e criadores de gado detestam a medida. Argumentam que vacas, que não usam relógio, devem ser ordenhadas sempre à mesma hora. É grita inútil. A norma que estabelece a dança das horas periga continuar ad vitam aeternam.
Anotemos pois: a partir deste 29 de março, Brasília está distante quatro horas de Lisboa, Dublin e Londres. E cinco horas dos outros países da Europa ocidental.
Falando nas agulhadas que ingleses e franceses adoram aplicar-se mutuamente, ocorre-me que nossa expressão sair de fininho se traduz assim: em inglês: «take a French leave» (sair à francesa) em francês: «filer à l’anglaise» (escapar à inglesa).
Mal-educados são sempre os outros, nunca nós mesmos. Interessante, não? Vamos terminar parodiando o fecho com que Millôr Fernandes costumava encerrar suas historietas: pano rapidíssimo.
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