Blog da Reitoria nº 437, 27 de abril de 2020
Por Prof. Paulo Cardim
“Ensinar exige rigorosidade metódica” (Paulo Freire)
“Avaliar também” (Paulo Cardim)
As instituições de educação superior (IES), assim como todos os demais setores da economia mundial, não estavam preparadas para essa pandemia. A Covid-19 provocou mudanças radicais na sociedade como um todo, mas os reflexos nas organizações industriais, comerciais, de serviço e na área governamental foram devastadores. Todos estávamos despreparados para isso.
Os serviços públicos de saúde, da União, das unidades federadas e dos municípios, que já eram deficitários e precários, passaram a ser reservados somente para os pacientes da Covid-19. UTIs foram fechadas para outros atendimentos, mesmo que não fossem ocupadas por vítimas desse vírus. Os cuidados iniciais foram louváveis, mas continuar parece-nos indicar que muitos prefeitos e governadores agem sem ter presente a vida de seus governados. Os dados estatísticos superam as descobertas médicas e científicas. Fazer previsões, como se fosse a relaxada previsão de tempo, que pode não se consumar, indica-nos o despreparo da grande maioria dos governantes e dirigentes da área da saúde. Levar pânico à população revela uma ignorância científica e política. Na política, os prefeitos passarão por um teste em outubro deste ano; para os governadores, em outubro de 2022. O povo não se esquece mais com tanta rapidez. A TV, revistas e jornais não são mais os reis da comunicação. Foram desbancados pelas redes sociais, pelos canais e tvs virtuais, graças aos infindáveis e renováveis recursos proporcionados pela internet, os meios digitais de informação e comunicação.
Os desafios na área da educação presencial foram – e são – mais profundos. A educação remota ou a distância para professores e estudantes foi, e ainda é, um desafio para uma comunidade de gestores, professores e estudantes acostumados e acomodados com o ensino presencial, com metodologias passivas, sem que ainda tivessem assimilado, corretamente – com as exceções de praxe –, o ensino não presencial, autorizado pelo Ministério da Educação, desde o ministro Paulo Renato, em outubro de 2001, pela Portaria nº 2.253/2001. Passados quase vinte anos, essa modalidade de aprendizagem não foi totalmente assimilada pelos atores dos cursos presenciais.
O Time Belas Artes está procurando fazer a sua parte com inovações, criatividade, capacitação e muita dedicação para a relação educador/educando. Não é fácil, mas a dedicação da equipe é extraordinária e está fazendo a sua parte, para que os nossos estudantes não percam nenhum conteúdo curricular e haja, com eficiência e eficácia, o desenvolvimento de competências e habilidades previstas nos projetos pedagógicos de cada curso presencial.
Creio que, depois desta pandemia, nada será como antes. E a educação terá absorvido o conceito de aprendizagem semipresencial, com a capacitação contínua de gestores, professores e alunos. A sala de aula deixará de ser o único espaço de aprendizagem. As metodologias ativas poderão ser realizadas com maior e melhor desenvoltura. E todos vão ganhar, especialmente, os educandos, causa maior de nossas IES.
José Manuel Moran, com doutorado em Ciências da Comunicação pela USP, professor de Novas Tecnologias na mesma universidade, agora aposentado, é pesquisador, conferencista e orientador de projetos de transformação da Educação com metodologias ativas, modelos semipresenciais e educação a distância. Em 1994, publicou um importante artigo para a aprendizagem do futuro, que permanece atual, no qual defendia o conceito de curso, de aula muda, quando a internet começava a engatinhar no Brasil:
Hoje, ainda entendemos por aula, um espaço e um tempo determinados. Mas, esse tempo e esse espaço, cada vez mais, serão flexíveis. O professor continuará “dando aula”, e enriquecerá esse processo com as possibilidades que as tecnologias interativas proporcionam: para receber e responder mensagens dos alunos, criar listas de discussão e alimentar continuamente os debates e pesquisas com textos, páginas da Internet, até mesmo fora do horário específico da aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes. Assim, tanto professores quanto alunos estarão motivados, entendendo “aula” como pesquisa e intercâmbio. Nesse processo, o papel do professor vem sendo redimensionado e cada vez mais ele se torna um supervisor, um animador, um incentivador dos alunos na instigante aventura do conhecimento.
Que assim seja! E será.
“É mais fácil governar um povo culto, cioso de suas prerrogativas e direitos, que tem nítida a compreensão de seus deveres, que um povo ignaro, indócil, sem iniciativa e inimigo do progresso”.
“O papel da instrução é preparar e formar homens capazes e úteis à sociedade; o papel do governo é fornecer meios fáceis de se adquirir a instrução, disseminando escolas e patrocinando iniciativas boas confiadas à competência e ao amor de quem promove tão nobilitante tarefa”.
Prof. Carlos Alberto Gomes Cardim
Diretor da Escola Normal Caetano de Campos
Educador e Inspetor de Alunos, 1909
Irmão do fundador do
Centro Universitário Belas Artes de São Paulo
Pedro Augusto Gomes Cardim.