IECC – Admissão ao Ginásio nos anos 60.

Admissão ao Ginásio nos anos 60.

(wilma s. legris)

Queridos leitores: 

Na década de 60 havia uma dicotomia em relação aos dois primeiros e os dois últimos anos da escola primária;  os objetivos pedagógicos dos anos inciais eram de sociabilizar as crianças, deixá-las autônomas para a leitura e , baseando-se no método analítico para a leitura e no aprendizado dos cálculos através de memorização das tabuadas e pontos, ditos de conhecimentos gerais.

Nos dois últimos anos, o objetivo fundamental era o domínio da leitura e da escrita; seus corolários ajustavam-se ao reforço de conteúdo aprendido com os Conhecimentos Gerais e grande capacidade de cálculo mental para podermos utilizá-lo na resolução de problemas, estes geralmente ligados à vida prática dos adultos, com vazamentos de canalização, quilos, arrobas e toneladas de mercadorias na feira ou no cais do porto,  metros de tecido a serem negociados, hectares de terras a serem colonizadas, madeira a ser vendida em esteres e, trens que se cruzavam depois de percursos realizados com diferentes velocidades.

Não faltavam os campeonatos de cálculo mental, geralmente feito com as malas prontas à espera do badalo do sino para partir: uma criança ia dando as indicações e a classe realizando mentalmente as operações, até que um elemento fosse escolhido para dar o resultado d processo que decorria mais ou menos assim:

8 vezes 5; dividir por 4, somar com 7, multiplicar por 2; somar 66, multiplicar por 10 e dividir por 50.

Se no terceiro ano, as figuras geométricas deviam de ser dominadas, no quarto eram os volumes; as frações que na classe de 1960 eram simples, no 4° ano, de 1961 eram complexas.

Assim, se as crianças desejassem sair do quarto ano e saltar o 5°, era aconselhável fazerem um curso de Admissão ao Ginásio, ciclo que na época era considerado como trampolim para estudos mais embasados e com grande possibilidade de oferecer ascensão social aos grupos menos favorecidos da sociedade.

Em  1961, em São Paulo, as escolas primárias públicas eram corretamente competentes no quesito da pedagogia, mas não em número de vagas e de unidades suficiente para uma população em torno de 5 milhões de habitantes.

Para que um aluno chegasse a frequentar um Ginásio do Ensino Público(os 4 anos após o primário, hoje as 5a, 6a, 7a  e 8as séries) era necessário que passasse pelo Exame de Admissão ao Gianásio, um vestibular seletivo devido ao número insuficiente de escolas; nas escolas particulares já não havia esse tipo de concurso e, para lá iam os alunos com maior poder aquisitivo, aqueles cujos pais quisessem um ensino forte em línguas(alemão, francês ou inglês) e os mais fracos saídos do ensimo público ou particular.

O Instituto de Educação Caetano de Campos e as Escolas de Aplicação da USP eram os melhores estabelecimentos de ensino, tanto no Curso Primário como no Ginasial, resultando desse fato não somente uma seleção extrema através da prova de conhecimento dos alunos, como uma concorrência desigual entre os que puderam ser bem escolarizados e os demais.

Nossa professora do 4° ano, Deolinda Loureiro, que dava aulas no periodo da manhã, recebia um grupo de crianças diariamente em seu apartamento da rua das Palmeiras, para com eles extravasar o currículo do 4° ano e introduzir as matérias do 5°.

Muitos de nós estivemos nesses cursinhos de admissão, em unidades próximas às nossas casas, com professoras consagradas no ensino público que aumentavam sua renda no período em que normalmente tinham como livre.

Poucas foram as crianças do IECC que escolheram ou precisaram fazer o 5° ano; a maior parte dos alunos do Instituto de Educação saiu diretamente para o ginásio do IECC, escola cobiçada no interior do Estado, onde pais pediam transferência de trabalho caso seus filhos ali pudessem ser admitidos.

Como era o exame de Admissão?

A primeira prova era de Linguagem(escrita), contando com ditado com nível de dificuldade elevado, exercícios de gramática geral e redação. A prova era excludente se a nota fosse inferior a 5(cinco sobre dez).

Seguia-se a prova de Aritmética, não excludente,  cuja nota somada à de Linguagem deveria dar a média de no mínimo 5(cinco sobre dez).

Não me lembro se  havia pesos multiplicados por dois na média final nessas duas primeiras provas.

Depois vinham as outras provas, incluindo todos os Conhecimentos Gerais(História, Geografia, Educação Moral e Cívica, levando em consideração a expressão escrita) cujas notas seriam somadas às notas iniciais e dariam uma média que capacitaria o candidato a prosseguir aos exames de seleção se a média fosse igual ou superior a Cinco(sobre dez).

Em função do número de vagas, geralmente formado por quatro classes masculinas de quarenta alunos e idém para as classes femininas, eram chamados, em numerus clausus, os primeiros classificados.

Na sala do 2° andar do antigo prédio do IECC, onde despacha hoje(2012) o Secretário da Educação, havia um grande auditório onde, escalados por horário, uma dezenas de candidatos se apresentava à uma banca examinadora formada por professores do Ensino Secundário do IECC , titulares da cadeira de Português.

Era entregue um texto literário diferente à cada candidato; depois de o ler em voz alta, este deveria responder às perguntas de compreensão exigidas pelos membros da banca examinadora.

Além de compreender o texto de modo geral, as palavras mais difíceis do vocabulário eram dali extraídas para que déssemos os sinônimos e antônimos das mesmas;  testes orais de conjugação de verbos eram pedidos no fim, de preferência com verbos irregulares em tempos outros que o Indicativo e com aplicação em frase dita oralmente.

Obtida a nota do oral, somente os primeiros 160 alunos de cada sexo  entrariam definitivamente no Ginásio do IE Caetano de Campos.

As ilustrações que seguem abaixo, provém do site www.anosdourados.blog.

Entre elas, vemos dois quadros com imagens que serviam para a composição escrita, tanto na descrição quanto na escrita de um texto livre.

Abraços aprovados,

wilma.

07/07/12.

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25 respostas para IECC – Admissão ao Ginásio nos anos 60.

  1. José disse:

    Amigos. Parabéns pela matéria aqui exposta. Eu sou desse tempo, sempre estou comentando com filhos e netos com eram os estudos nessa época. Começo as recordar e traz muitas saudades.

  2. Marileide Leite de Almeida disse:

    Adorei . Sou desta época,entravámos para o Ginásio bem preparados. Quanta saudades…

  3. Gilberto de Sousa Araujo disse:

    Fiz a admissão para o Ginásio nos anos sessenta,gravei mais ou menos 90% das capitais do universo tenho vontade de rever esse livro.Eu sou admirador do sistema de ensino da minha época.Muita saudade e o nosso ensino deveria ter melhores normas.Hoje não existe uma forma do aluno aprender a dar valor o que precisa na realidade aprender na escola.

  4. Estou quase de acordo com vc; faltou o ensino do método parapensarmos por nohs mesmos e o da possibilidade da escolha da liberdade com responsabilidade! Abraços, wilma

  5. Luzia disse:

    Muito bom! Otimas lembranças! Em 10 anos (6 de primario + 4 de ginasial) acho que aprendiamos muito mais que hj! (Qd terminei a sexta série,acabou a admissao lá pelos finais dos anos 60.

  6. Continue conosco; o blog é todo seu!

  7. ELIAS disse:

    ESTUDEI O ABC, AÍ A MINHA PROFESSORA ( LEIGA ) DISSE-ME QUE EU PODERIA IR DIRETO PARA O PRIMEIRO ANO, SEM PRECISAR PASSAR PELA CARTILHA. DESSE MODO,MEU PAI, SEGUINDO O CONSELHO DE MINHA MESTRA, MATRICULOU-ME NO PRIMEIRO ANO DO CURSO PRIMÁRIO,GALGUEI O SEGUNDO ANO, O TERCEIRO, DE MANEIRA QUE AO TERMINAR O QUARTO ANO, A PROFESSORA DISSE-ME QUE NÃO PRECISARIA FAZER O QUINTO ANO, E QUE EU JÁ TINHA CONHECIMENTOS PARA FAZER O EXAME DE ADMISSÃO AO GINÁSIO E SER APROVADO, COMO FUI, EMBORA COM UMA MÉDIA 5,3 ! PROVAS DE LÍNGUA PORTUGUESA, REDAÇÃO, DESCRIÇÃO, DITADO DE ”PALAVRAS SOLTAS”, ARITIMÉTICA / MATEMÁTICA, GEOGRAFIA,HISTÓRIA, E CIÊNCIAS ! TENHO SAUDADE DAQUELES TEMPOS, EM QUE HAVIA RIGOR NO ENSINO FUNDAMENTAL, E GRANDE RESPEITO AOS PROFESSORES, QUE ERAM VERDADEIRAS AUTORIDADES EM SALA DE AULA ! ( ELIAS CIRQUEIRA -VITÓRIA DA CONQUISTA-BA )

  8. Elias; fomos contemporâneos pois fiz o Jardim em 57 e o Curso primario de 58 a 61. Mande-me fotos ou trabalhos seus, caso os tenha, que os publicarei no blog. Meu e-mail: w.legris@gmail.com
    Abraços, wilma
    o que vc conquistou depois de sair do IECC?

  9. Maria Luiza Ferreira disse:

    Lendo seus artigo agora em 2020 e apesar de não ter estudado nesta época, vemos como a qualidade do ensino caiu! Parabéns pela ótima explanação!

  10. Esteja sempre conosco Maria Luiza!

  11. Ana Luiza disse:

    Muitas saudades!
    Vocês acreditam que eu entrei no Caetano de Campos e não quis estudar lá porque era muito grande?
    Coitado dos meus pais! Aceitaram e me levaram para colégio particular, apesar da pouca renda! Pais maravilhosos!

  12. Espero que você teve boa formação na escola particular!

  13. MARIA LUCIA DE SOUZA PINHEIRO disse:

    Nossa! Que saudades. Eu estudei nesse livro eu fiz Admissão. Tinha muitos verbos e outras coisas boas. Queria conseguir um livro desse pra guardar de lembranças.

  14. Elza Ribeiro disse:

    Tenho tantas saudades da época de infância na escola. Não me esqueci de umas professoras, não lembro nome de uma, lembro de uma substituta de saia , nome Sueli. Enfim, estou aqui porque, sinto saudades de tudo, principalmente de meus pais!

  15. Ana Beatriz disse:

    Achei problemático usar o termo “fracos” em: “aqueles cujos pais quisessem um ensino forte em línguas(alemão, francês ou inglês) e os mais fracos saídos do ensimo público ou particular.” Não era sobre ser fraco, era sobre herdar condições materiais de anos anteriores. Quem eram os que ingressavam no ginásio? Quem eram os que não ingressavam? Era questão de força ou fraqueza? Não, era questão social. Mas se eu entendi errado também, ignorem o comentário.

    • Ana Beatriz; a injustiça social faz parte integrante da mentalidade do poder; a ENC foi criada pelas elites do café, assentadas no poder institucional, priorizando o ensino dos “seus” em detrimento da sociedade em geral. Veja o vídeo postado ntem e criado pela PUC. Abraços, wilma

  16. Vanda Pego disse:

    Nossa que saudades dessa época, tb comentou com filhos, e noras como tínhamos que passar nessa prova para poder continuar nossos estudos.

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